por João Carvalho, Médico Gastrenterologista - Gaia

Na dificuldade actual de lhe chamar doença ou síndrome, consideremos a “sensibilidade não-celíaca ao glúten” (SNCG - ou NCGS na literatura de língua inglesa) como uma “situação clínica” com que vários doentes se auto-diagnosticam ou se apresentam aos médicos.  
Definindo pelo modo mais simples, é um quadro clínico em que há melhoria de sintomas digestivos ou outros com restrição de alimentos contendo glúten e, muitas  vezes, pioram quando se reintroduz na alimentação.  
Os estudos bem desenhados e realizados, básicos e clínicos, escasseiam. Portanto alguns aspectos são ainda duvidosos.
Os mecanismos talvez passem por estimulação da imunidade ou por indução de hipersensibilidade. 
Admite-se que, em muitos casos, os sintomas sejam devidos também a outros componentes contidos nos alimentos com glúten.
Pode ocorrer diarreia (por vezes obstipação), mal-estar ou dores  abdominais, sintomas relacionados com gás intestinal. Pode estar associada a outras doenças digestivas. Também são referidos outros sintomas: doenças de pele; dores de cabeça, depressão, ansiedade, esquecimento fácil, fadiga, dores articulares, etc. - porém este tipo de manifestações são inespecíficas e podem não pertencer a esta situação.
Há muitos termos designando esta condição e há condições ou síndromes semelhantes, e o rigor é importante pois pode haver prejuízo por diagnóstico impreciso.
As situações mais semelhantes são a doença celíaca - manifesta, subclínica ou oculta - a síndrome do intestino irritável, intolerância e alergia ao trigo. O estabelecimento destas situações é por vezes também difícil. 

Portanto:
-  o diagnóstico de SNCG, se suspeitada pelo doente, deve ser confirmado pelo médico assistente ou por gastrenterologista, muitas vezes com ajuda de outros profissionais de saúde, nomeadamente nutricionista. E porquê: algumas doenças importantes podem ser ocultadas e não tratadas; a dieta sem glúten é muito restritiva e pode levar a deficiências nutricionais e alterações da flora intestinal, principalmente se mal conduzida; esta dieta dificulta o diagnóstico de doença celíaca. Além disso, a doença celíaca e outras semelhantes não produzem apenas alterações intestinais, que devem ser pesquisadas.
- os testes de diagnóstico para a doença celíaca devem ser feitos com o doente a comer dieta com glúten - antes de dietas ou após a sua reintrodução. Por várias razões algumas pessoas iniciam uma dieta sem glúten ou semelhante antes de recorrer ao médico: a resposta a essas dietas em poucos dias e reaparecimento dos sintomas com a sua paragem pode ser um dado importante, mas pode dificultar o diagnóstico.  

Nota: em próximos artigos abordaremos, de forma resumida, situações clínicas acima mencionadas bem como outras relacionadas.

 

---

Já tem a sua recomendação de dieta sem glúten? 

Veja aqui a nossa seleção de produtos biológicos, saborosos e nutritivos sem glúten!